Braga de Garagem
Braga cresceu a ouvir música na década de 1980, com o aparecimento de bandas de garagem como "Mão Morta". Até ao início do séc. XXI, a emergência de novos actores musicais não cessou. No entanto, a visibilidade que estes tinham não era tão elevada como agora começa a ser.Delfim Machado e Ivo Neto
Já não chegam os dedos de uma mão para contar as bandas bracarenses que lançaram álbuns e arriscaram fazer da música uma actividade profissional. Numa altura em que se discute cada vez mais as questões económicas, as bandas revelam que necessitam de apoio para continuar a elevar o nome de Braga no seio da música alternativa. O público é, segundo os músicos, importante para a emergência dos grupos, mas em Braga este possui características diferentes das outras cidades. Os espaços para dar concertos também são necessários às bandas, e estes têm acompanhado o crescimento movimento musical, mas nem sempre os espaços são um investimento lucrativo, o que faz com que a existência das bandas de garagem também fique em risco.
O expoente máximo da corrente minhota ainda assenta na emblemática banda “Mão Morta”, liderada pelo também emblemático Adolfo Luxúria Canibal. Os “Mão Morta” fazem parte do universo musical de Braga e confundem-se com a sua própria génese. O seu sucesso, bem como o dos grupos que foram criados com inspiração nos “Mão Morta”, fez com que Braga fosse considerada, há cerca de duas décadas, “a cidade das bandas”. Actualmente, o grupo continua a ser um símbolo e a principal fonte de energia da nova vaga de bandas de garagem que começa a emergir na cidade dos arcebispos. São vários os nomes que compõem o mapa musical da região, continuando este processo em constante mutação. “Smix, Smox, Smux” , ”Peixe:Avião” e “Monstro Mau” são apenas alguns dos novos rostos que assumem destaque e dão continuidade a esta identidade.
Entrada num novo mundo
Para contrariar esta tendência temos os “Art Leak”, que são uma banda que conta com seis meses de existência. O grupo, originário de Famalicão, começa agora a enfrentar os primeiros problemas num mundo em que o bilhete de entrada não é nada barato. António Campos, baixista do grupo, esteve com Buddha, dos já experientes “Monstro Mau”, numa conversa em estúdio onde se falou, entre outras coisas, das dificuldades de formação de uma banda, das peripécias que aconteceram no início de cada uma e do ambiente musical que se vive actualmente em Braga. Apesar da diferença de experiências, própria de quem tem uma carreira já formada e quem está apenas a começar, os dois artistas mostraram-se confiantes no futuro de cada projecto, explicando as formas que cada grupo musical vai encontrando para se sustentar.
A composição nos "laboratórios"

Mas não é apenas da instituição camarária que surgem apoios destinados à formação e ao suporte dos grupos musicais bracarenses. O UMplugged é um concurso de bandas, organizado anualmente pela Associação Académica da Universidade do Minho (AAUM), que serve de primeiro grande palco para muitas bandas. A edição deste ano de 2009 bateu o record de participação.
“Há uma emergência de novas bandas em Braga”
“Há uma emergência de novas bandas em Braga”, refere Adolfo Luxúria Canibal, vocalista dos “Mão Morta”, e expoente máximo do ambiente musical bracarense. Depois de um pequeno inquérito realizado a bandas de garagem da região, conclui-se que, de facto, há uma nova vaga semelhante à dos anos 80, que prima pelo companheirismo entre as bandas e pela entreajuda nos momentos de maior dificuldade. Cada vez mais Braga se reafirma no panorama musical mundial, em boa parte graças ao rock alternativo.
Mas será que esta tendência é acompanhada pelas bandas de outros países? Karmel, dos “Box Kid”- uma banda de garagem de Manchester, no Reino Unido- , sente que o ambiente musical da cidade britânica é mais variado. Em entrevista, a artista sublinhou que em Manchester “existem oportunidades [para tocar] em todos os cantos”, o que não acontece em Braga.
Espera-se agora pelo desenvolvimento desta nova vaga de bandas de garagem, que poderá vir a deixar apenas um sobrevivente,como sucedeu nos anos 80 do século passado, ou a catapultar a cidade bracarense para um novo rumo no panorama musical do país.
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