segunda-feira, 1 de junho de 2009

Braga de Garagem


Delfim Machado e Ivo Neto

Braga cresceu a ouvir música na década de 1980, com o aparecimento de bandas de garagem como "Mão Morta". Até ao início do séc. XXI, a emergência de novos actores musicais não cessou. No entanto, a visibilidade que estes tinham não era tão elevada como agora começa a ser.


Já não chegam os dedos de uma mão para contar as bandas bracarenses que lançaram álbuns e arriscaram fazer da música uma actividade profissional. Numa altura em que se discute cada vez mais as questões económicas, as bandas revelam que necessitam de apoio para continuar a elevar o nome de Braga no seio da música alternativa. O público é, segundo os músicos, importante para a emergência dos grupos, mas em Braga este possui características diferentes das outras cidades. Os espaços para dar concertos também são necessários às bandas, e estes têm acompanhado o crescimento movimento musical, mas nem sempre os espaços são um investimento lucrativo, o que faz com que a existência das bandas de garagem também fique em risco.

O expoente máximo da corrente minhota ainda assenta na emblemática banda “Mão Morta”, liderada pelo também emblemático Adolfo Luxúria Canibal. Os “Mão Morta” fazem parte do universo musical de Braga e confundem-se com a sua própria génese. O seu sucesso, bem como o dos grupos que foram criados com inspiração nos “Mão Morta”, fez com que Braga fosse considerada, há cerca de duas décadas, “a cidade das bandas”. Actualmente, o grupo continua a ser um símbolo e a principal fonte de energia da nova vaga de bandas de garagem que começa a emergir na cidade dos arcebispos. São vários os nomes que compõem o mapa musical da região, continuando este processo em constante mutação. “Smix, Smox, Smux” , ”Peixe:Avião” e “Monstro Mau” são apenas alguns dos novos rostos que assumem destaque e dão continuidade a esta identidade.

Entrada num novo mundo

O processo de formação de uma banda de garagem nem sempre em fácil, e Braga não constitui excepção. Recentemente, os “Smix Smox Smux” deram um concerto de pré-lançamento daquele que será o primeiro álbum de originais do grupo. Em declarações proferidas na altura,o baixista, Smix, descreveu alguns dos problemas a enfrentar na criação de uma banda. A falta de espaços para dar concertos é a principal dificuldade apontada pelo músico.

Para contrariar esta tendência temos os “Art Leak”, que são uma banda que conta com seis meses de existência. O grupo, originário de Famalicão, começa agora a enfrentar os primeiros problemas num mundo em que o bilhete de entrada não é nada barato. António Campos, baixista do grupo, esteve com Buddha, dos já experientes “Monstro Mau”, numa conversa em estúdio onde se falou, entre outras coisas, das dificuldades de formação de uma banda, das peripécias que aconteceram no início de cada uma e do ambiente musical que se vive actualmente em Braga. Apesar da diferença de experiências, própria de quem tem uma carreira já formada e quem está apenas a começar, os dois artistas mostraram-se confiantes no futuro de cada projecto, explicando as formas que cada grupo musical vai encontrando para se sustentar.

A composição nos "laboratórios"

Para minimizar as dificuldades sentidas pelas bandas de garagem, existem suportes de apoio criados de forma a permitir o lançamento dos jovens grupos. “A grande quantidade de bandas existentes” é o argumento utilizado pela vereadora da cultura da Câmara Municipal de Braga, Ilda Carneiro, para justificar a construção das nove salas de ensaio no Estádio 1º de Maio, e que são utilizadas já por 28 grupos. As paredes, preenchidas com “posters” ou pequenas piadas dirigidas a outras bandas, bem como os diferentes instrumentos alinhados como se de um concerto se tratasse, compõem o espaço criado a pensar nos grupos musicais. Nos "laboratórios", como lhes chamam, as bandas ensaiam em conjunto, partilhando instrumentos e, mais do que isso, histórias e experiências. Esta metodologia permite um conhecimento mútuo dos diferentes grupos, o que, aliado ao gosto pela música, cria um espírito de união entre as jovens bandas. O projecto da Câmara, pioneiro em Portugal, já serviu de laboratório a bandas como “Peixe: Avião” e “Monstro Mau”, e promete ser o embrião de novos projectos.

Mas não é apenas da instituição camarária que surgem apoios destinados à formação e ao suporte dos grupos musicais bracarenses. O UMplugged é um concurso de bandas, organizado anualmente pela Associação Académica da Universidade do Minho (AAUM), que serve de primeiro grande palco para muitas bandas. A edição deste ano de 2009 bateu o record de participação.

“Há uma emergência de novas bandas em Braga”

Não são, contudo, só as bandas que têm um papel importante no processo musical. O público assume cada vez mais uma posição a ter em conta na vida de um grupo. Para além do aspecto financeiro presente nesta relação, até porque a maioria das jovens bandas começam sem fins lucrativos, o acompanhamento é bastante importante para uma banda, como refere Smix, dos “Smix Smox Smux”. O público bracarense sempre esteve numa linha paralela com os grupos e, apesar de não se tocarem de forma directa, é fácil encontrar alguém que acompanhe uma banda. Contudo, as preferências variam e até há quem não conheça nenhuma banda de garagem de Braga.

“Há uma emergência de novas bandas em Braga”, refere Adolfo Luxúria Canibal, vocalista dos “Mão Morta”, e expoente máximo do ambiente musical bracarense. Depois de um pequeno inquérito realizado a bandas de garagem da região, conclui-se que, de facto, há uma nova vaga semelhante à dos anos 80, que prima pelo companheirismo entre as bandas e pela entreajuda nos momentos de maior dificuldade. Cada vez mais Braga se reafirma no panorama musical mundial, em boa parte graças ao rock alternativo.

Mas será que esta tendência é acompanhada pelas bandas de outros países? Karmel, dos “Box Kid”- uma banda de garagem de Manchester, no Reino Unido- , sente que o ambiente musical da cidade britânica é mais variado. Em entrevista, a artista sublinhou que em Manchester “existem oportunidades [para tocar] em todos os cantos”, o que não acontece em Braga.
Espera-se agora pelo desenvolvimento desta nova vaga de bandas de garagem, que poderá vir a deixar apenas um sobrevivente,como sucedeu nos anos 80 do século passado, ou a catapultar a cidade bracarense para um novo rumo no panorama musical do país.



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